Desde o lançamento do game Devil May Cry, em 2001, foram incontáveis as sugestões para batizar o Stylish Action, este empolgante sub-gênero de ação, que até hoje não possui um nome oficial.
Jogos de combate profundo? Parece raso demais, ironicamente. ‘Ação de personagem’, como diversas publicações chamam hoje em dia?
Bem, pra não corrermos o risco de explodir a cuca pensando demais nisso, vamos usar o termo ‘ação estilosa’, ou Stylish Action, que alguns dos criadores dessas séries já utilizaram no passado.
Os jogos de Stylish Action variam bastante em tom e mecânica, mas geralmente têm em comum uma quase-obsessão por estilo e pose. A série Devil May Cry, por exemplo, baseia toda a profundidade do combate em um conceito chamado Style, no qual a variação dos golpes vale mais pontos do que a repetição.
O gênero também é conhecido pelo desafio. Nossa performance nesses games é julgada por um sistema de ranking criterioso que, atingidas as metas, nos recompensa com itens e moeda para gastar nas lojas dentro do jogo. O combate é exigente, mas calibrado na medida para que o jogador perceba uma evolução em cada tentativa.
Jogos de stylish action
Talvez até inspirado em seus próprios sistemas de ranking, o Stylish Action tem evoluído há quase duas décadas, com alguns dos games mais inesquecíveis das gerações recentes.
Será que o seu favorito entrou na lista?
Vamos lá!
9. Metal Gear Rising: Revengeance
Desenvolvido pela Platinum Games, empresa formada por veteranos do Stylish Action, este Metal Gear deixa o tradicional stealth de lado em favor de um sistema de combate acelerado e técnico.
Raiden, no papel principal pela primeira vez desde Metal Gear Solid 2, até chegou a empunhar uma espada em sua participação anterior, mas não podia ser controlado com a destreza e a agilidade que imaginamos em um ninja. Metal Gear Rising preenche bem essa lacuna.
O jogo não é tão cheio de segredos e detalhes como outros Metal Gear, mas dentro do contexto do Stylish Action, a experiência é ótima.
Os inimigos são desafiadores, as set pieces são bem trabalhadas, o ritmo da ação é intenso, e claro, correr pra lá e pra cá cortando robôs no meio com uma katana é divertido demais.
8. Devil May Cry 5
Dante, Nero e V, este último o mais novo personagem central da franquia, se unem contra a ameaça do temido Urizen. O vilão espalhou raízes de uma árvore demoníaca pelo mundo moderno, a fim de gerar uma fruta proibida com poderes inimagináveis. Isso porque o cara já é um demônio.
A trama é cheia de reviravoltas e referências aos eventos de Devil May Cry 1 a 4, abandonando de vez o reboot grafiteiro de DmC.
O jogo mais recente da série também tem a mecânica mais refinada. Dante e Nero são tão familiares e aperfeiçoados que a gente sente como se estivesse reencontrando velhos amigos.
Nero ganha tipos diferentes de Devil Breakers, modelos descartáveis para seu braço de Dhalsim, e Dante desperta um nível de fúria infernal nunca visto com o Sin Devil Trigger.
Já V, que divide o papel de protagonista com os outros demo-heróis, estreia com seu próprio estilo de luta. Debilitado, ele não consegue atingir inimigos diretamente, optando por comandar criaturas que façam o estrago por ele: Shadow, a pantera do primeiro Devil May Cry, e Griffon e Nightmare, em versões compactas dos monstros do mesmo jogo.
V não passa nem perto da complexidade de Dante e Nero, e a impressão que fica é de que martelar os botões à distância com ele é mais eficiente que qualquer método mais cauteloso.
Ao menos seu combate não é forçado com tanta frequência, e os outros dois personagens são tão sensacionais que V não chega a comprometer a qualidade do jogo tanto assim.
7. Bayonetta
Hideki Kamiya tem cadeira cativa em qualquer discussão sobre Stylish Action – afinal de contas, ele é o grande visionário do gênero.
Seu histórico na ação de estilo começou em 2001 com Devil May Cry, deu um tempo na terceira dimensão com Viewtiful Joe, e finalmente atingiu o ápice em Bayonetta, que narra uma guerra milenar entre bruxas e anjos. Os anjos, no caso, são os vilões.
Não por coincidência, o tema central de Bayonetta é justamente o clímax. Toda a estética do combate gira em torno desse conceito de lutar até o extremo, desde a métrica de impacto dos golpes (100 gigaton!) até as sequências de finalização dos chefes, nas quais a protagonista assume formas monstruosas e mastiga os coitados até a morte.
Bayonetta ainda introduz uma mecânica interessante de desvio de golpes chamada Witch Time. Com o timing correto, ao evitar um ataque, Bayonetta reduz o fluxo de tempo por alguns instantes, permitindo contra-atacar o inimigo com dano ampliado.
Fiquei na dúvida entre o Bayonetta original ou a sequência para este Top 9. Ambos são excelentes e mais polidos que o outro em aspectos diferentes.
O combate do primeiro é um pouco mais equilibrado, ao passo que o design das fases no segundo é mais focado e não perde tanto tempo com mini-games supérfluos. No geral, porém, os dois jogos são parecidos demais, e seria bacana dar uma oportunidade para outras séries aparecerem na lista.
Vamos então de Bayo 1, só pra não ficar em cima do muro, mesmo.
Tá decidido, Bayo 1.
… acho!
6. Viewtiful Joe
A lista de Games Retrô de Super-Heróis foi o primeiro artigo Top 9 do Gameverso, e é a segunda vez que Viewtiful Joe aparece entre os listados. Que canseira. Eu já estava aqui planejando lançar Top 9 Heróis que Vestem Vermelho e Usam Lenço Rosa na próxima, mas talvez seja melhor esperar um pouco…
Durante um encontro no cinema, Joe e sua namorada Silvia são subitamente transportados para dentro da tela, onde são obrigados a viver a aventura do filme. Por sorte, logo de cara, Joe encontra o herói do filme, que empresta superpoderes cinematográficos para ajudar o garoto em sua missão.
Viewtiful Joe pode ser considerado um beat-‘em-up, como na lista anterior, mas é também um primoroso exemplo do Stylish Action.
O sistema de combos e a mecânica VFX oferecem o tipo de nuance que os fãs do gênero procuram, enquanto a distribuição de upgrades e a hierarquia de inimigos são praticamente cópias em papel-carbono do primeiro Devil May Cry. Dante até surge na versão PS2 de Viewtiful Joe como um dos personagens extras.
5. God Hand
Um dos jogos mais malucos já lançados por uma produtora gigante como a Capcom, God Hand vai do combate técnico ao humor nonsense em um piscar de olhos.
“Difícil, mas justo” era a tagline de um dos trailers na época, que mostrava vários personagens dançando enquanto Gene, o protagonista, batia e apanhava com o mesmo sorriso no rosto. Oi?
God Hand é cria da mente inspirada de Shinji Mikami, pai da série Resident Evil. A mecânica lembra um beat-‘em-up, só que 3D, só que sei lá. O jogo é indescritível mesmo.
God Hand utiliza o engine de Resident Evil 4, e empresta alguns conceitos da obra-prima do terror: controle de tanque, inimigos ranqueados, golpes de contexto, e até uma versão própria das Plagas, que saem dos capangas em forma de demônios ainda mais cruéis.
A customização é o ponto alto do gameplay aqui, com centenas de golpes que podem ser encaixados no combo principal ou em qualquer outro comando pré-determinado.
O combate em God Hand exige dedicação e, acima de tudo, paciência, mas é um dos mais gratificantes do gênero, com feedback impecável e camadas infindáveis de conhecimento para quem estiver disposto a descobri-las.
O jogo também possui um casino com corridas de chihuahua.
Enfim.
4. Ninja Gaiden Black ou Sigma
Ninja Gaiden é um dos casos mais bem sucedidos de passagem 2D para 3D na indústria dos games. O primeiro jogo da fase poligonal da série honrou bem o legado 8-bit, resgatando a ação constante e a dificuldade brutal que traumatizaram tanta gente na época do Nintendinho.
Ao mesmo tempo, o novo game revigorou a energia da franquia com elementos de design mais modernos e um sistema de combate mais envolvente.
Ninja Gaiden Black é considerada a edição definitiva do game para Xbox, trazendo correções e atualizações importantes como controle manual de câmera. Poucos anos depois, um remaster em HD foi lançado para o PS3: Ninja Gaiden Sigma.
Sigma tem algumas novidades interessantes, em especial os gráficos retocados e Rachel como personagem jogável. As duas versões são excelentes.
3. Devil May Cry
O “vovô” da ação de estilo não oferece um sistema de combate tão rico quanto o de gerações sucessoras, mas ainda é um jogo importantíssimo, e segue com algumas vantagens interessantes sobre a competição.
O design dos inimigos e chefes continua brilhante, com tantos ataques e variações que é possível enfrentar um monstro duas vezes, nas mesmas condições, e testemunhar comportamentos totalmente distintos.
Vários inimigos possuem pontos fracos com chance de dano crítico, e as fraquezas dos monstros em geral são bem distribuídas para as habilidades de Dante. Todos os golpes são úteis.
O jogo também se beneficia por ter sido lançado em uma espécie de dimensão transitória entre Resident Evil e o estilo estabelecido em Devil May Cry 3.
A história é conhecida: Devil May Cry foi originalmente concebido como uma sequência da série de zumbis, mas os produtores entenderam que haviam encontrado uma identidade própria nesse novo conceito, e daí nasceu o Stylish Action.
A parte de exploração em DMC1 lembra demais Resident Evil, desde o grandioso cenário do castelo até a ambientação, que cria uma atmosfera de mistério e imersão nunca mais vista no gênero.
O jogador acaba se familiarizando bem com o layout do castelo, onde portas se encontram frequentemente trancadas e é necessário ir e voltar com chaves para abrir novos caminhos. Dante também comenta qualquer objeto notável no cenário, algo que nem mesmo jogos de terror recentes fazem mais.
Certos aspectos em Devil May Cry não envelheceram bem, é verdade, com destaque negativo para a câmera fixa – outra herança de Resident Evil –, que muitas vezes não permite a melhor visibilidade durante lutas mais frenéticas.
A curva de aprendizado também não é ideal, com picos inesperados de dificuldade e um sistema de ‘continue’ um tanto impiedoso. Mesmo assim, e especialmente considerando toda a evolução do Stylish Action desde a sua origem, a qualidade do precursor do gênero ainda impressiona.
2. Ninja Gaiden II (Xbox 360)
Ryu Hayabusa está de volta em sua aventura mais visceral e sangrenta desde o seu nascimento na era 8-bit. A história tem alguma coisa a ver com vingança e demônios e uma espada. Alguém aí prestou atenção?
O combate é visivelmente aprimorado em relação ao game anterior. A colisão com os inimigos agora é mais favorável ao jogador, o controle responde melhor, e Ryu tem acesso a uma seleção maior de ferramentas para causar toda a destruição possível no mundo demoníaco do… Japão feudal? Eu realmente não prestei muita atenção na história.
O ritmo da ação é alucinante, e muito disso se deve ao número inacreditável de inimigos que podem aparecer de uma vez na tela. O fps do jogo sofre até de um jeito meio cômico com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo.
Para balancear um pouco esse caos, os inimigos em Ninja Gaiden II geralmente morrem com poucos golpes. Braços, pernas e cabeças são decepados e rasgados o tempo todo, como se fossem de papel.
Um ano depois do seu lançamento, NG2 foi repaginado para o PlayStation 3 como Ninja Gaiden Sigma 2. Eu acho a versão Xbox superior, com mais inimigos, mais estratégia, mais sangue e valores de dano mais equilibrados. Dito isso, se a versão Sigma for a única disponível aí pelas redondezas, ainda vale a pena.
1. Devil May Cry 3: Special Edition
Mesmo com a fundação sólida construída no primeiro Devil May Cry, a franquia só foi estabelecer sua identidade de gameplay no terceiro jogo.
A nova mecânica, chamada Style, abraça completamente a ideia de que a variedade dos combos é mais valiosa que a repetição.
Um golpe forte usado trocentas vezes pode até ser eficiente para derrotar o inimigo, mas a barra Style está sempre de olho na diversidade dos golpes, e isso reflete diretamente no ranking final de cada missão.
E não é como se o game forçasse o jogador a alternar dois golpes e só: o número de possibilidades aqui é surreal, com cinco armas melee, cinco de projétil, e seis estilos de luta que modificam e acrescentam habilidades ao repertório de Dante.
Trickster, por exemplo, aumenta a agilidade do herói com técnicas avançadas de movimento, enquanto Royalguard nos ensina a bloquear ataques com o timing correto para anular o dano.
A história do jogo, intitulada Dante’s Awakening, é surpreendentemente eficaz para os padrões do gênero, com personagens bem desenvolvidos, estrutura organizada e eventos memoráveis que expandem a mitologia da franquia.
A versão Special Edition de Devil May Cry 3, lançada em 2006, ainda inclui Vergil como personagem jogável e outras novidades bem-vindas como o modo extra Bloody Palace.
Na minha visão, qualquer integrante dessa lista poderia ser considerado o melhor da categoria. Além disso, listas de Top X são limitadas por definição, e é uma pena não podermos analisar a capacidade Stylish de outros clássicos como No More Heroes e Vanquish.
Quem sabe na próxima, até porque a minha ideia de Top 9 Heróis que Vestem Vermelho e Usam Lenço Rosa não vai rolar mesmo…
Até mais!