Resident Evil 2 Remake e sua Renovação Inventiva

Confira as impressões, comparações, sistema e cenários de Resident Evil 2 Remake. O jogo analisado da cabeça decapitada aos pés ensanguentados!

Vinte anos depois de assombrar uma geração inteira com Resident Evil 2, a desenvolvedora Capcom atendeu aos pedidos dos fãs e reimaginou o clássico do terror de sobrevivência. Mais atualizado e intenso, Resident Evil 2 Remake certamente não supera a versão original em todas as métricas, mas consegue encontrar sua própria identidade – em parte, graças a uma junção inteligente do survival horror clássico com a jogabilidade moderna popularizada em Resident Evil 4.

Neste artigo você vai conferir minhas impressões sobre os seguintes aspectos de Resident Evil 2 Remake:

  1. História
  2. Comparação de design e mecânica do RE2 antigo vs. remake
  3. Sistema de cenários
  4. Desafio
  5. Análise de rejogabilidade
  6. Apresentação visual e design de som

Resident Evil 2 Remake analisado da cabeça decapitada aos pés ensanguentados

A ideia nas minhas análises é sempre tentar passar o máximo de tempo possível com o game, avaliando todos (ou quase) os modos de jogo disponíveis. Será que o que vale a pena em Resident Evil 2 Remake está na história principal, ou será que há um peso equivalente no conteúdo extra? Este é o tipo de game que recompensa bem a prática do combate e incentiva sessões futuras?

Vamos lá!

1. História quase toda conhecida

Após os eventos ocorridos na mansão Arklay, no primeiro Resident Evil, a epidemia do T-Virus se espalhou pelas ruas de Raccoon City.

Leon S. Kennedy, um policial novato, encontra Claire Redfield, irmã de um dos protagonistas da primeira aventura, no meio do caos. Os dois unem forças e decidem procurar abrigo na delegacia, onde aparentemente seria mais seguro.

A trama de Resident Evil 2 Remake é a mesma do original, mas boa parte dos diálogos e personagens foi reinventada. Ada Wong é apresentada como oficial do FBI, e Kendo agora tem muito mais a perder do que sua loja de armas.

A narrativa de Resident Evil 2 nunca foi digna de prêmios nem nada do tipo, mas cumpria bem o seu papel, e o novo jogo faz ótimo trabalho ao manter a linha de eventos original enquanto adiciona uma carga dramática maior em relação a vários personagens.

Nem tudo são flores (ervas?), como as interações entre Leon e Claire, que mal se encontram durante a história e, quando acontece, passam longe do timing ideal.

2. Design antigo, mecânica atual

Ao contrário da saga moderna iniciada com Resident Evil 4, mais voltada para as set pieces de ação, o Resident Evil 2 Remake resgata a maioria dos elementos do survival horror clássico: recursos limitados, chaves e charadas espalhadas por um grande labirinto, e a certeza de que é preferível evitar um confronto a sair atirando sem considerar opções mais econômicas.

Atirar, inclusive, ficou mais intenso: se no RE2 original a mira era automática e regrada pelos ângulos fixos da câmera, agora a pontaria é por nossa conta, exigindo buscar partes vulneráveis no corpo do inimigo. Alguns tiros no peito podem até derrubar o zumbi no chão temporariamente, mas acertar a cabeça traz maiores chances de dano crítico.

Não é nada revolucionário, mas pelo comportamento dos monstros e pelo design do mapa, que incentiva o jogador a ir e vir constantemente, esse tipo de decisão estratégica funciona bem demais. E aqui não há itens deixados no chão pelos inimigos, nem golpes de contexto como em outros RE modernos; todo tipo de suprimento e solução ofensiva neste jogo é 100% finito.

Também é possível defender-se de um ataque utilizando sub-armas, um conceito emprestado do remake do primeiro Resident Evil. A diferença no jogo novo é que as sub-armas podem ser usadas livremente, sem contato com o inimigo.

As facas têm durabilidade limitada, enquanto as granadas de flash e fragmentação, é claro, são usadas somente uma vez. As facas ainda podem ser recuperadas depois de um uso de defesa, se o inimigo for derrotado.

Ao mesmo tempo, o jogo recorda praticamente todas as consequências das nossas ações. Por exemplo, arrancar a perna de um zumbi faz com que o inimigo se arraste no chão pelo resto do jogo, até que nos livremos dele de alguma maneira. Outro zumbi que nos perseguiu por várias salas poderá ficar por ali mesmo, longe do seu ponto de origem.

Esses detalhes transformam o mapa da delegacia em um grande quebra-cabeça: será que eu volto na biblioteca com essa nova chave, sabendo que deixei dois zumbis se arrastando por lá? Devo matar aquele outro zumbi e pegar a minha faca de volta?

Decisões assim acontecem durante todo o jogo, intensificadas pelo espaço limitado de inventário e… algumas outras surpresas.

3. Cenários A e B não vendem bem o próprio conceito

Resident Evil 2 Remake possui a mesma estrutura de cenários alternados que fez sucesso no original: o cenário A, em que um dos protagonistas explora a delegacia pela porta da frente, e o cenário B, que acompanha o segundo personagem por um caminho ligeiramente diferente e conclui a trama com o final estendido. A história pode ser iniciada por Leon ou Claire (cenário A) e finalizada pelo outro personagem (cenário B), totalizando quatro cenários de jogo possíveis.

Infelizmente, esse aspecto é talvez a única grande decepcão do remake, já que as mudanças de um cenário para outro não chegam a ser impactantes como no RE2 original. Os diálogos são os mesmos para cada personagem, bem como os confrontos com os chefes. Também não há nenhuma decisão no cenário A que venha a afetar o cenário B, como a sala de impressão digital no game de 1998.

Há uma ou outra diferença interessante, como certos itens no cenário B que aparecem antes do esperado, mas no geral, as quatro histórias passam uma sensação de termos comprado um pacote de figurinhas que veio só com repetidas.

A explicação mais provável, e aqui entra um pouco de especulação da minha parte, é que a Capcom planejava apenas um cenário para cada personagem, visto que as diferenças entre Leon e Claire, aí sim, são consideráveis: armas completamente diferentes, chefes e áreas exclusivos, personagens secundários únicos. Mas a revolta dos fãs foi tamanha que eles decidiram tentar preservar a estrutura antiga de cenários A e B, e o resultado não foi exatamente impecável.

4. Desafio superior ao original

Os níveis de dificuldade Assisted e Standard são balanceados para uma experiência relativamente suave, com valores de dano e quantidade de itens mais inclinados a favor do jogador, auto-save e espaço maior de inventário. O modo Assisted ainda oferece assistência de mira, e recupera parte da energia do personagem automaticamente, sem necessidade de usar itens.

Já o modo Hardcore, cuja descrição desafia abertamente os veteranos da série, contribui bastante para a tensão do jogo. Não é segredo que a distribuição de munições no RE2 original era segura e abundante, e o combate não exigia muita destreza. No nível Hardcore deste remake, no entanto, uma mordida qualquer leva o personagem ao status crítico de perigo, e há um elemento maior de planejamento de recursos.

Hardcore também é o único modo que adota Ink Ribbons para salvar o progresso, como nos games antigos.

Particularmente, eu recomendaria o modo Hardcore para a melhor experiência com o jogo, ainda que seja uma meta para sessões futuras.

E por falar em sessões futuras…

5. Longevidade relativa

Os games clássicos da série Resident Evil não costumam ser longos, e Resident Evil 2 Remake não é diferente: um cenário leva de 6 a 10 horas para zerar na primeira experiência. Comparado com qualquer grande produção atual, o saldo não é dos mais animadores se calcularmos o valor do investimento por hora de campanha. Além disso, a maior fonte de longevidade no RE2 original sempre foi a variedade entre os cenários A e B, que incentivam o jogador a concluir os dois lados da história. Aqui, pela sensação de repetição dos eventos, um cenário tende a satisfazer mais que dois.

Ainda assim, o design base do remake é suficientemente viciante para convidar o jogador para novas sessões. O combate, mais técnico que o do original, estimula um domínio maior a cada visita; a gente sente que pode atravessar tal corredor e derrotar tal inimigo utilizando menos recursos, e talvez com a mira um pouco mais calibrada.

As armas infinitas, marcas registradas da série, estão de volta como recompensas para finalizar a história em tempo recorde. Ao menos na minha experiência, esses prêmios não são nada inatingíveis. Eu destravei todas as armas usando uma rota bem segura, e depois disso continuei aprimorando meus tempos nos quatro cenários.

A pressão de correr contra o relógio pode ser estressante, mas também é gratificante perceber melhoras no nosso desempenho e no conhecimento do jogo. Detalhes como a opção de pular cenas e a ausência de telas de ‘loading’ durante o gameplay ajudam a não deixar maçante o processo de repetir a campanha várias vezes.

Também estão de volta os cenários extras 4th Survivor, estrelando o misterioso Hunk, e Tofu Survivor, estrelando… um bloco de tofu, por que não? Os dois modos seguem o mesmo conceito: um caminho linear com trocentos inimigos e pouquíssimos recursos à disposição.

O modo Tofu é acompanhado por uma trilha sonora de heavy metal absurdamente hilária dentro do contexto de estarmos controlando um tijolo de soja. Ainda há uma surpresa revelada após a conclusão do cenário Tofu que deve agradar aos que curtiram essas duas pequenas jornadas.

Os principais conteúdos por download deste jogo, ou DLCs, são gratuitos. Chamadas ‘Ghost Survivors’, as missões adicionais estrelam personagens secundários da história principal. O nome não é lá muito otimista pra esse pessoal, mas enquanto eles estão por aí, seus objetivos são mais ou menos parecidos com os de Hunk e Tofu: sobreviver a uma horda de inimigos em um caminho mais simples que o labirinto do game principal, com recursos bastante limitados. Os DLCs possuem uma dificuldade de treino e uma acima, mais exigente.

Outras extensões DLC, estas pagas, oferecem pacotes de roupas alternativas – incluindo o look Elza Walker, em homenagem à protagonista de uma notória versão cancelada do game original –, a trilha sonora do RE2 antigo como opção, e a possibilidade de pagar pelas potentes armas infinitas sem o esforço das corridas.

Até a data de publicação desta análise, não foi anunciado mais nenhum conteúdo por download.

Mais incentivos pós-história incluem modelos 3D dos personagens e monstros, roupas alternativas não-pagas, artes conceituais, e os já esperados achievements, incorporados pelo jogo em uma lista intitulada Records.

Finalmente, para os membros da rede oficial RE.net, a Capcom disponibiliza uma série de desafios semanais como zerar um dos cenários sem utilizar sub-armas.

Eu geralmente encontro maior rejogabilidade em games mais curtos. Nesse sentido, Resident Evil 2 Remake encaixou bem no meu gosto. A possibilidade de terminar um cenário em menos de duas horas – ou esticar a experiência explorando em um ritmo mais calmo – é algo que me atrai para novas aventuras mais do que uma longa e cansativa odisséia de 80 horas. Mas é claro, isso depende de cada pessoa e de cada jogo. Eu acredito que a duração das campanhas é a ideal, mas há também uma imensa oportunidade perdida nas conexões entre os cenários A e B, que poderia ter alavancado a estimativa de vida útil do remake.

6. Na estica

Com menos de dez minutos de jogo, os protagonistas encontram um policial encostado na parede, com aparência exausta. O sinal do rádio pendurado no uniforme do oficial transmite um som quebrado, meio estático, indecifrável. Ao chegar perto e examiná-lo, percebemos que seu rosto está completamente dilacerado, corroído, talvez. A câmera mostra todos os detalhes sangrentos possíveis nessa pequena cena de terror que, na minha visão, chega a rivalizar com a icônica introdução ao primeiro zumbi da série em 1996, ou os momentos mais perturbadores da série Silent Hill.

A apresentação visual e o design de som em Resident Evil 2 Remake são fenomenais. Um segundo de observação revela o comportamento de descanso de um dos monstros Lickers, que estica e enrola a língua sem notar a nossa presença. A animação é tão curiosa e ambígua que fica difícil concluir se a criatura está calma ou furiosa naquele momento.

Da “decoração” caótica na delegacia aos aterrorizantes passos de um certo vilão X, dono de alguns dos maiores sustos da franquia, cada instante do jogo é cuidadosamente orquestrado para entregar uma das melhores experiências audiovisuais do gênero.

O RE Engine, inicialmente criado para a franquia de terror, parece mais lapidado em relação à sua estreia em Resident Evil 7. Rostos estão mais expressivos e menos genéricos, a iluminação é convincente, e a interface de menus é rápida e prática. Há tropeços ocasionais, como o rosto de Claire, que parece ter sido otimizado mais para uns ângulos do que para outros. Mas o redesign dos protagonistas foi ótimo em termos gerais, e eles seguem como dois dos melhores personagens de Resident Evil.

A atenção aos detalhes também impressiona: corpos dos inimigos derrotados continuam por ali, decapitados, carbonizados, eletrocutados, do jeito que o jogador os deixou, até o fim da campanha. O visual das armas vai mudando à medida que o jogador encontra novos upgrades, que ainda podem ser checados com descrição específica no menu Examine.

Vale o novo susto

Resident Evil 2 Remake tem seus pontos questionáveis, mas no geral é uma excelente – e tensa – releitura de um dos grandes clássicos do terror, e figura entre os Top 9 jogos de Resident Evil. O game sobreviveu à desconfiança inicial e foi construído minuciosamente, com o intuito de surpreender até o mais cético dos fãs. Respeitando (quase) todas as convenções históricas do original, o remake ainda conseguiu acrescentar o bastante para desenvolver um encanto próprio.

Agora começa mais uma longa espera pelo remake de Resident Evil 3, que com o sucesso dessa nova versão de RE2, parece inevitável.

Ainda bem!

Resumão – Resident Evil 2 Remake
+ mistura bem a tensão do survival horror clássico e a jogabilidade livre da série moderna, sem sacrificar profundidade em nenhum dos estilos
+ homenageia o RE2 original ao mesmo tempo que constrói sua própria identidade
+ adaptações modernas bem-vindas, como o fim das telas de portas
+ desafio mais gratificante que no RE2 antigo
+ atenção aos detalhes, dos objetos examinados aos corpos deixados pelo caminho
– estrutura de cenários decepcionante e repetitiva
– a interação entre os personagens principais deixa a desejar
Nota final: 9/10

Conteúdo zerado em Resident Evil 2 Remake:

  • Os 4 cenários principais (Hardcore)
  • Cenários rejogados para destravar armas infinitas e rank S+ (Hardcore)
  • Cenários rejogados para aprimorar tempo de S+ (Hardcore)
  • 4th Survivor
  • Tofu Survivor (& família)
Renato Penov
Renato Penov
Olá! Meu nome é Renato Penov, nasci em 1983 e sou apaixonado por games desde criança. Sou formado em Comunicação Social pela ESPM e, além dos games, gosto bastante de desenhar, escrever e de cinema. Para quem curte conteúdo de arte, tenho um perfil no Instagram com tirinhas e desenhos variados: @renpenov. Meu game favorito é Mega Man 3, desde a infância. Meu primeiro console foi o NES, que a gente chamava na época de Nintendinho.

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