Pegando carona no sucesso de Resident Evil 4, Dead Space arrastou a ação de terror para os mais horripilantes cantos do universo, e é claro que a gente quis viajar junto.
Dead Space foi uma série de curtíssima duração, o que é surpreendente para uma produção tão grande e bem vista pelo público. Apenas cinco anos separam o primeiro e o último jogo da franquia, que varia bastante em tom e execução.
Nossa retrospectiva vai acompanhar toda a heróica saga de Isaac Clarke, o engenheiro que aprendeu a usar suas ferramentas de mineração para decepar alienígenas e… aprendeu a falar, também.
Dead Space (2008)
Até o angustiante Alien: Isolation, Dead Space foi o jogo que chegou mais próximo da sensação de explorar a nave Nostromo, de Alien – O Oitavo Passageiro. A USG Ishimura, uma majestosa embarcação designada para mineração de planetas, emprestou traços e ambientes diretamente do clássico de Ridley Scott, desde a iluminação inconstante aos claustrofóbicos corredores.
E é lá que o engenheiro Isaac Clarke, nosso silencioso protagonista, vive seu pior pesadelo. Contratado para um serviço de reparação, Isaac descobre toda a tripulação da Ishimura infectada por criaturas misteriosas.
Munido de potentes ferramentas de mineração que funcionam, em essência, como armas de tiro, Isaac pode decepar braços, pernas e cabeça dos Necromorphs, os monstros do jogo. Dependendo da parte do corpo que for dilacerada, as criaturas mudam seu comportamento e golpes: se tiver a perna arrancada, por exemplo, o inimigo não consegue mais correr.
Ao contrário da maioria dos jogos do tipo, atirar na cabeça aqui é tipicamente uma má ideia, deixando os Necromorphs mais rápidos e agressivos.
Apesar da nova mecânica, Dead Space não escapou das comparações com Resident Evil 4, ainda um dos pilares do gênero. A loja de itens variados – sem o amigo Merchant desta vez –, a hierarquia de inimigos e até os upgrades das armas são bastante similares à obra-prima da Capcom.
Mas a ‘inspiração’ não tira o brilho de Dead Space, que é até hoje uma experiência aterrorizante. O design de som e a interface integrada à realidade do jogo – os menus e energia de Isaac são projetados através de hologramas e em seu traje, respectivamente –ajudam a imersar o jogador nesse mundo sufocante, bem como a trama cheia de reviravoltas.
Dead Space: Extraction (2009)
Extraction é um rail shooter lançado originalmente para o Nintendo Wii e mais tarde PS3, usando e abusando do controle por movimento que era a moda da época.
Os rail shooters de terror costumam sofrer com uma certa obrigação de criar o mesmo suspense dos seus jogos de origem, deixando as fases lentas e sem muito valor de rejogabilidade. Extraction tem o mesmo problema, na maior parte do tempo.
Dito isso, o jogo traduz bem a ideia de decepar corpos inimigos via Wiimote. Extraction é uma adição interessante à série.
Dead Space: Ignition (2010)
Quase esqueci de Ignition quando organizei essa lista. É um jogo tão insípido e sem importância que funcionou mais como uma lembrança de que Dead Space 2 estava chegando.
Ignition une mini-games de lógica e reflexo a uma história interativa de múltipla escolha, e não faz lá um trabalho maravilhoso em nenhum desses aspectos. Os mini-games alternam puzzles, corrida e defesa de torre.
É uma distração boba, não mais que isso.
Dead Space 2 (2011)
Peraí. Isaac fala? O cara foi promovido a herói de filme em Dead Space 2, com frases de efeito e disposição física de atleta profissional, transformando-se não oficialmente no John McClane do espaço. Tá, o próprio Bruce Willis já foi o John McClane do espaço em O Quinto Elemento, mas enfim!
Dead Space 2 abraça de vez a ação, ainda com um toque de terror. A nova estação espacial não é tão memorável ou tensa quanto a Ishimura, mas traz maior variedade de ambientes e criaturas perturbadoras, e ajuda a expandir o universo – hah – da franquia.
O grande aprimoramento na sequência foi certamente o controle. O primeiro jogo foi coerente com seu conceito ao não dar tanta mobilidade nem poderes de reação irrealistas à sua estrela, um engenheiro ‘comum’, mas agora, com Isaac se tornando o Korben Dallas dos games, optaram por uma reformulação no feedback.
As armas, o movimento e a mecânica de decepar corpos são muito mais macios e responsivos, resultando em um jogo mais divertido, técnico, e talvez menos aterrorizante.
Dead Space 3 (2013)
O capítulo final da saga é o menos impactante, mas ainda assim um ótimo jogo.
As principais novidades em Dead Space 3 são a opção de jogar em dupla com outra pessoa, o que mergulha definitivamente a série na ação, e o sistema de criação de armas.
O primeiro é bem implementado. Em comparação com outros jogos co-op do gênero, como Resident Evil 5, Dead Space 3 acerta ao não forçar o segundo personagem no modo single player. Carver, parceiro de Isaac na aventura, praticamente nem aparece em jogos solo, só nas cenas de história.
Se o jogador preferir salvar a humanidade em dupla, além da campanha em si, há ainda várias missões opcionais à disposição.
A customização de armas é bacana, apesar de ‘prender’ upgrades até momentos do jogo que soam arbitrários demais. Isaac encontra peças espalhadas pelas fases o tempo todo, podendo combiná-las para montar novas ferramentas. Tem coisa mais satisfatória que uma pistola laser que também é um lança-chamas?
Já o cenário da derradeira jornada é Tau Volantis, um planeta desolado e congelante que abriga os piores segredos da série. A mudança de ambiente é bem-vinda depois de duas estações espaciais de tom mais ou menos parecido.
As tempestades de neve, a necessidade de manter a temperatura corporal equilibrada e os novos trajes de frio são algumas características que o gameplay adota dentro do tema.
Infelizmente, o design de fases peca no backtracking excessivo pelas mesmas áreas, com desafios que não justificam o vai-e-vem. A distribuição de inimigos só piora essa impressão, repetindo emboscadas atrás de emboscadas que acabam ficando previsíveis.
Ao que tudo indica, Dead Space foi aposentado permanentemente quando a EA se desfez do estúdio Visceral Games, mas tem em Callisto Protocol um sucessor em espírito, produzido pelo mesmo criador. Vamos aguardar!
Tá no clima pra jogos de terror? Que tal conferir outra retrospectiva assustadora, desta vez da série Silent Hill, ou nossa análise do novo clássico Resident Evil 2 Remake?
Até mais!