Lançado em 1997 em meio a expectativas estratosféricas, Street Fighter 3 foi considerado um balde de água fria por fãs e crítica, que aguardavam um sucessor mais familiar e acessível para o clássico anterior. Com o passar do tempo e impulsionado por atualizações importantes, Street Fighter 3 finalmente construiu o seu legado, sendo hoje uma das referências no gênero.
Missão impossível
Não é tarefa simples substituir o jogo de luta mais popular de todos os tempos. Mesmo 30 anos depois, Street Fighter 2 ainda é o template ideal da categoria, e qualquer jogo que tenta subverter ou criar novos conceitos em cima desse molde precisa fazê-lo de maneira inquestionável.
E Street Fighter 3 já não começou tão bem.
New Generation – subtítulo oficial do terceiro jogo – apostou na reformulação do elenco, abandonando quase toda a geração antecessora de lutadores. Apenas Ryu e Ken voltaram, e originalmente o americano nem teria entrado; só o incluíram pois os designers sentiram que não haviam criado personagens suficientes.
Em um primeiro olhar, os estreantes da vez realmente não tinham o mesmo charme (talvez um pouco estereotipado) de E. Honda, Dhalsim, Chun Li e o resto da lendária turma. No lugar deles entraram Alex, que a Capcom tentou empurrar como novo protagonista – sua imagem até ilustrava a lateral das cabines –, o brasileiro Sean, o boxeador gentleman Dudley e outros novatos que passaram longe de cativar os fãs.
Para piorar a situação, o público no fim dos anos 90 estava mais ligado em jogos de luta acelerados e de maior escala, como X-Men vs. Street Fighter, além de produções 3D cada vez mais enxutas como Soul Calibur e Tekken 3, deixando os fighters de estilo mais convencional no banco de reservas.
Camadas e mais camadas para desvendar
Apesar de todas as impressões negativas, ou talvez para contê-las, a Capcom logo decidiu produzir um update do jogo, intitulado Second Impact, com mais alguns personagens e mecânica atualizada.
Um ano depois chegou Third Strike, a versão definitiva de Street Fighter 3, com cinco estreantes e ainda mais retoques.
E foi Third Strike que enfim conquistou a admiração dos gamers, processo que exigiu anos de paciência e estudo das inúmeras camadas do gameplay; em especial, o Parry.
Parry, o novo sistema de defesa em Street Fighter 3, é dos mais difíceis de dominar em jogos de luta. O comando é simples, requer apenas mover o joystick na direção do golpe inimigo, mas a janela que permite a defesa é extremamente rigorosa. Se for bem sucedido, o Parry oferece uma oportunidade de contra-ataque que pode se transformar em um dolorido combo.
A dinâmica das lutas em Street Fighter 3 gira totalmente em torno dessa habilidade, fazendo com que os oponentes observem os movimentos do outro com cuidado e escolham bem o momento de atacar, já que qualquer golpe pode ser defendido.
Por consequência, o ritmo da ação acabou ficando lento e metódico, o que certamente contribuiu para o processo mais arrastado de hype pelo jogo.
Apresentação impecável
O audiovisual é mais um aspecto que reflete o curso prolongado até a popularização de Street Fighter 3. Em uma época tomada por polígonos, gráficos desenhados à mão já não recebiam tanta atenção dos desenvolvedores, nem do público.
Mas a arte em Street Fighter 3 é primorosa, com sprites detalhadíssimos e trocentos frames de animação por golpe.
Lembro até hoje de uma revista de jogos que usou a largura de duas páginas abertas para mostrar todos os frames do Hadoken lado a lado.
Já a trilha sonora varia do jazz ao hip hop, contando inclusive com um rap completo na tela de escolha de personagem. Não é uma trilha clássica instantânea como o trabalho de Yoko Shimomura em Street Fighter 2, mas as composições aqui são excelentes.
Comunidade apaixonada
O legado de Street Fighter 3 passa pelo carinho e dedicação de sua comunidade hardcore, que organiza torneios com frequência e continua desvendando segredos do gameplay e compartilhando com o público em geral.
O famoso EVO Moment #37, que eternizou o instante mais célebre da história dos torneios de luta, é um exemplo da recompensa do treinamento individual aliado a todo o esforço coletivo para descobrir e evoluir a mecânica de um jogo que, de fato, merecia mais sucesso do que teve em seus três lançamentos.
E que a comunidade continue assim, com esse e outros jogos ainda com tanto potencial para ser revelado!
Tem aí alguma memória do mundo dos jogos que merece destaque? Mande suas sugestões!
Enquanto isso, se ainda estiver no modo pancadaria ativado, dê uma olhada no Top 9 Jogos de Stylish Action, que foram influenciados em boa parte pelo gênero de luta. Ou confira a retrospectiva da série Final Fight, a primeira aparição de Hugo como Andore.